Imagem do terror contra os presos políticos de Castro Castro
Hugo
Deodato Juárez Cruzatt, o segundo filho do casal Osilia Ernestina
Cruzatt e Juárez Cruzatt, nasceu em Ayna, departamento de Ayacucho,
Peru.
Estudou Filosofia e Psicologia em Educação na Universidade
de Huamanga e trabalhou como professor na mesma instituição,
lecionando Filosofia na década de 1970. Capaz, estudioso, dinâmico,
dominava seis idiomas além do espanhol: inglês, francês, chinês,
japonês, alemão e o quéchua (idioma remanescente dos Incas, povo
originário do Peru), tudo isso associado a uma grande capacidade de
organização.
Nos anos que antecederam o deflagrar da Guerra
Popular no Peru (17 de maio de 1980), Hugo Deodato compôs a Fração
Vermelha do Partido Comunista do Peru, dirigida pelo Dr. Abimael Guzmán
Reynoso, o Presidente Gonzalo. Ombro a ombro com seus camaradas,
travou titânica luta por retomar o rumo do partido fundado pelo grande
Jose Carlos Mariátegui que fora afundado no reformismo por sucessivas
direções oportunistas e revisionistas. Para convertê-lo em um verdadeiro
partido comunista, levantando a bandeira de sua reconstituição para
iniciar a luta armada como Guerra Popular Prolongada.
Em 1981,
já no primeiro ano de guerra popular, Hugo Deodato foi enviado pelo
partido a Iquitos, na Amazônia peruana, e compôs o seu Comitê na
região, o qual sofrera duro golpe da reação. Nesse mesmo ano foi preso
acusado de participar de uma expropriação a um banco da cidade.
Em depoimento prestado à Corte Interamericana de Direitos Humanos,
Osilia Ernestina Cruzatt, conta que seu filho foi perseguido, preso e
brutalmente torturado. Ele recebeu um forte golpe na cabeça e, quando
perdeu os sentidos, pensaram que havia morrido. Somente um dia depois
perceberam que ele ainda vivia. "Este ayacuchano é de pedra", disseram
os policiais. Uma das irmãs de Hugo Deodato conseguiu que um advogado e
um médico pudessem ver seu irmão na prisão. Ele estava em um estado
tal que sangrava pelos olhos, boca e ouvidos. Semanas depois, ao ser
libertado, retomou suas tarefas revolucionárias.
Hugo ao lado de Abimael Guzmán
Enviado
para a capital, Lima, em 1983, trabalhou como professor na
Universidade de La Cantuta e na Universidade San Martín de Porres.
Também lecionou na Universidade de San Marcos até que, em 1985,
retornou a Iquitos. As poucas informações disponíveis indicam que foi a
partir daí que Hugo Deodato passou a integrar o departamento de
propaganda do Partido Comunista do Peru — PCP.
Como dirigente do
partido, ele era conhecido como camarada "Ricardo" ou "Germán". Alguns
senderólogos* e agentes policiais peruanos o apontam como o "delfim"
ou "herdeiro natural" de Abimael Guzmán da direção do PCP. O fato é que
Germán era membro do Comitê Central do PCP, do seu Birô Político e
responsável pelo seu Departamento de Propaganda (DP). Este departamento
era um dos aparatos mais importantes do partido, sendo diretamente
dirigido pelo Comitê Central. Estima-se que em 1985 o DP agrupava 35
militantes do partido e contava ainda com dezenas de apoiadores das
massas (gráficos, operários, estudantes, intelectuais e artistas
populares). O trabalho de propaganda do PCP estendia-se por todo o país
e os materiais impressos chegavam também aos milhares aos partidos e
organizações revolucionárias e comitês de apoio à Guerra Popular no
exterior. Imprimiam todo tipo de materiais: livros, brochuras, folhetos,
cartazes, jornais, organizavam sua distribuição através de uma ampla
rede de apoiadores, além dos comitês e células do partido.
Devido ao importante trabalho desempenhado por Hugo Deodato, consideravam-no um "Tigre com Asas".
No início do ano de 1990 os órgãos de repressão do velho Estado
peruano (Dincote, SIN, etc.) já sob total condução da CIA ianque,
preparavam uma grande operação de cerco e aniquilamento contra a
direção central do PCP. Em 15 de janeiro de 1990, o Grupo Especial de
Inteligência (Gein) da Polícia Nacional do Peru desencadeou a "operação
Monterrico". Alguns integrantes das forças de repressão, como coronel
Benedicto Jimenez Bacca em seu livro Ascensão e queda do terrorismo no Peru,
relatam que, antes da queda do Departamento de Propaganda do PCP,
percebendo a movimentação das forças de repressão, Hugo Deodato lutava
para modificar os locais onde eram guardados os materiais de
propaganda, despistar o inimigo e reforçar a segurança do partido. Em 15
de setembro, os agentes do Gein se surpreenderam com o repentino
"desaparecimento" de vários militantes que vinham sendo seguidos de
perto.
No entanto, quatro dias depois, Hugo Deodato foi
localizado na casa da Rua Monterrico, preso junto com outros
componentes do DP e rapidamente transferido para a penitenciária Miguel
Castro Castro, em Lima.
Somente no ano seguinte, em 22 de junho de 1991, com a prisão de
Yovanka Pardavé, outro valioso quadro da direção central do PCP e então
responsável pelo Socorro Popular (um dos aparatos mais importantes que
o PCP construíra), é que viriam à tona detalhes da queda de Hugo
Deodato. Os registros dos órgãos de repressão peruanos citam um
"informe-balanço" redigido por ele na prisão, dirigido à direção do
partido, encontrado na casa de segurança onde vivia Yovanka.
Em
seu informe, Hugo Deodato assume a responsabilidade e avalia os erros
que levaram à queda do Departamento de Propaganda do partido.
"Em
todo o momento mantive a regra de ouro e não aceitei absolutamente
nada... dias antes de minha prisão, consegui retirar todos os
documentos e matrizes de impressão dos últimos anos e os coloquei em um
local que a reação desconhece". — salientou Germán.
Ele
recorda a "operação Isa", deflagrada em 1º de junho de 1990, também
conhecida como "as quedas de junho", citando prisões de militantes que
possivelmente quebraram a regra de ouro, revelando informações cruciais
aos verdugos das forças de repressão.
O dirigente se
autocritica por "aplicar velhas formas de trabalho e não ver a
necessidade de aplicar outras demandadas pela Guerra Popular" e por não
"por a política no comando" para tratar de forma correta e científica
os problemas de segurança. Ele reconhecia que o trabalho de propaganda
crescia, que as tarefas se tornavam mais complexas e demandavam novas
soluções.
Concluindo seu informe, Hugo Deodato fez inúmeros apontamentos sobre a atividade conspirativa e a segurança do partido.
Lutaram e tombaram como heróis
O destino de Hugo Deodato foi o mesmo de vários outros dirigentes e militantes do PCP que tombaram no Dia da Heroicidade (Assim se portam os heróis da classe, AND
nº 78). Esses bravos prisioneiros que converteram os presídios em
Luminosas Trincheiras de Combate contra o velho Estado genocida
peruano, então encabeçado pela dupla Fujimori/Montesinos.
No dia
9 de maio de 1992, por volta das 10 horas da manhã, após renhido
combate, os prisioneiros de guerra começaram a sair dos pavilhões
cantando o hino do proletariado, A Internacional. À
medida em que os dirigentes saíam, eram identificados através de uma
lista e sumariamente fuzilados. Grupos de presos saíam com as mãos para
o alto, em sinal de desarmados e eram assassinados a sangue frio.
Os relatos dos poucos sobreviventes e de organizações de defesa dos
direitos do povo dão conta que, no primeiro grupo que saiu do pavilhão,
formando a primeira linha estavam os dirigentes do PCP Yovanka
Pardavé, Tito Valle Travesaño, Hugo Deodato Juárez Cruzatt, entre
outros.
Nesse momento, um guarda começou a gritar:
— "Aí está o grisalho! O grisalho!" — referindo-se a Hugo Deodato.
Projéteis atingiram sua cabeça, tórax e membros inferiores, matando-o instantaneamente.
"Se
meu filho estava preso, deveria ser julgado e não assassinado. E se
Fujimori ordenou que o matassem estando na prisão, eu não desejo o
mesmo a ele, mas sim peço que ele seja julgado. Que seja julgado pelos
crimes que cometeu na prisão de Castro Castro." — Osilia Ernestina Cruzatt.
_______________
*Senderólogos
— Matilha de pseudo-intelectuais, pseudo-escritores, "analistas" e
"investigadores" peruanos e estrangeiros que se autodenominam
"especialistas em "antropologia, sociologia e violentologia". Estes,
através de todos os meios de comunicação, utilizando-se de argumentos
distorcidos, fabricados pela reação, tentam difamar a Guerra Popular no
Peru, servindo deste modo aos objetivos do imperialismo, principalmente
o ianque, com artigos, livros e reportagens policialescas. O termo
deriva de "Sendero Luminoso", denominação dada ao PCP e ao Exército
Guerrilheiro Popular que dirige, pela imprensa reacionária, bem como
pelas "autoridades" do Estado peruano, retirada de uma consigna que os
maoístas proferiam na fase preparatória da guerra popular: "Por el
sendero luminoso de Mariátegui!", aludindo a retomar as contribuições
que o grande revolucionário marxista-leninista peruano José Carlos
Mariátegui aportara para a revolução peruana. |
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