Não é apenas no acompanhamento de páginas e perfis na internet que a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) faz-se presente na repressão política contra manifestantes no Rio. Segundo matéria do jornal O Globo, dessa quinta, um casal de funcionários da Agência foi preso no último dia 18 no Leblon, participando das "depredações". O casal de geógrafos Igor Pouchain Matela e Carla Hirt foi levado a 17º DP, no bairro. Foi após o ato do dia 18 que o governo do Estado, tentado criar um clima de comoção contra o “vandalismo”, deu carta branca a si mesmo –lançando horas depois a ilegal Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas (CEIV), apelidada o DOI-CODI de Sérgio Cabral. Como diz o ditado, há algo de (muito) podre no Reino da Dinamarca...
Diante da notícia, a ABIN, vinculada diretamente ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, disse “desconhecer a prisão ou autuação de servidor de seu quadro em 18 de julho ou nos dias subseqüentes na cidade do Rio”. Na mesma matéria, entretanto, o repórter Antônio Werneck aponta o nome de Igor Matela no Diário Oficial da União de 2008, sendo designado para atuar junto ao GSI, ao qual a ABIN está subordinada. Frente a evidência, a ABIN foi obrigada a lançar uma segunda nota, desmentindo a si própria, admitindo a participação de Igor entre seus quadros, dizendo que “o servidor citado integra os quadros da Agência e na data do ocorrido encontrava-se em férias”. Já a participação de Carla Hirt, supostamente pega com a “mão na massa”, é negada pela Agência.
Essa a verdadeira cara da gerente Dilma Roussef! Enquanto de boca exalta os protestos ditos “pacíficos” e fala em “pactos”, aplica todo tipo de medidas contra as massas em luta. A Força Nacional de Segurança e o Exército nunca deixaram de atuar na repressão política aos protestos –e agora surge a ABIN, diretamente a ela vinculada, tomando parte em manifestações perseguindo objetivos obscuros e certamente inconfessáveis. Essa a face monstruosa do oportunismo que gerencia o velho Estado brasileiro a serviço das classes dominantes. Como dizem palavras-de-ordem entoadas nas ruas “Dilma, Cabral: não valem um real”!.
ABIN: um filhote do regime militar
A ABIN foi criada em 1999 no governo FHC, para substituir as atribuições do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) do regime militar. O SNI, cujos quadros ainda na ativa foram integrado na ABIN, foi apelidado pelo general Golbery do Couto e Silva como o “monstro”, dados seus vários tentáculos infiltrados por toda a sociedade. A ABIN é simplesmente o órgão central do chamado Sistema Brasileiro de Informações, prestando assessoramento direto à Presidência da República. Em 2005 o então gerente Lula criou agências da ABIN em vários países norte-americanos, em nome de “colaborar” no combate ao narcotráfico e terrorismo –sendo na prática instrumento auxiliar dos serviços secretos norte-americanos. Até então só haviam, fora do Brasil, escritórios da agência na Argentina e no USA. Em 2013 o orçamento da ABIN é de R$ 513 milhões de reais.
Os casos de grampos telefônicos irregulares e infiltração são, obviamente, recorrentes. Em 2011 a revista Veja denunciou a prisão, pela PM de Pernambuco, de 4 agentes da ABIN infiltrados nas obras do porto de SUAPE. A ABIN, na verdade, estando subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional, jamais saiu das mãos dos generais. Atualmente, o Gabinete está nas mãos do general José Elito. Como se vê, não é apenas por covardia que o governo do PT se opõe à punição dos criminosos do regime militar, bem como à abertura dos arquivos. Afinal, mudam os governos –mas os carrascos são os mesmos.
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