No
dia 30 de abril, mais de 220 pessoas se reuniram em Jaru para prestar
homenagem ao Renato Nathan Gonçalves Pereira, assassinado cruelmente
pela polícia civil de Ouro Preto D’Oeste no último dia 09. Participaram
camponeses de várias áreas, também estudantes, professores, advogados,
operários, caminhoneiros e outros trabalhadores de Porto Velho,
Ariquemes, Cujubim, Jaru, Ouro Preto, Cerejeiras e Vilhena. Familiares
de Renato também estiveram presentes. O ato, organizado pela LCP – Liga
dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental, contou ainda
com a participação do Cebraspo – Centro Brasileiro de Solidariedade aos
Povos, Escola Popular, CPT – Comissão Pastoral da Terra de Rondônia e
de Jaru, Núcleo de Assessoria Técnica Popular Dom Antônio Possamai da
Diocese de Ji-Paraná, MEPR – Movimento Estudantil Popular
Revolucionário, DCE – Diretório Central dos Estudantes da Unir,
Codevise – Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina, MFP – Movimento
Feminino Popular e Unicam – União dos Caminhoneiros de Rondônia. Os 4
cantos de Rondônia estavam representados no ato.
O salão da matriz
da Igreja católica estava todo decorado com bandeiras de movimentos
populares democráticos, arranjos de flores, bandeiras com o rosto de
Renato e um grande painel com uma foto dele. O ato foi aberto com o
canto do hino da Revolução Agrária “Conquistar a terra”. Depois foram
apresentados vídeo, texto, poesia e músicas lembrando e homenageando a
vida e luta de Renato.
Os representantes
das entidades presentes se pronunciaram. Em seguida, a viúva do Renato,
seu pai e seu irmão receberam uma singela homenagem: flores e quadros
do companheiro, ornados com uma fita vermelha. Esta foi uma das partes
mais emocionantes de todo o ato.
Em seguida, os
participantes realizaram uma vigorosa manifestação pelas ruas de Jaru.
Organizados em 4 filas, empunhando faixas, bandeiras e o grande painel
com a foto do Renato, gritando palavras de ordem e distribuindo
panfletos divulgavam a verdade sobre a vida, luta e morte do
companheiro. Os trabalhadores dos comércios, obras e escritórios
paravam o trabalho para ver e ouvir a passeata com atenção. Nenhum
panfleto ficou no chão. Ex-alunas do professor Renato fizeram questão
de carregar faixa e bandeiras com o rosto dele.
Tudo foi muito
bonito e organizado. Várias pessoas passaram a noite anterior viajando,
outras ficaram acordadas trabalhando nos últimos preparativos. Era
bonito ver a disposição dos companheiros, sem nenhuma reclamação,
revelando uma consciência elevada sobre a importância da homenagem. Os
participantes se dividiram para realizar as taredas de cozinha,
segurança, limpeza, organização, decoração e atividades culturais.
O clima entre
todos era de muita revolta, tristeza, união, companheirismo, admiração
pelo exemplo de Renato, vontade de servir ao povo e consciência da
necessidade de continuar sua luta.
A verdade sobre a vida e luta de Renato e seu covarde assassinato
Segundo
informações de moradores, a moto de Renato estava em pé, com a seta
ligada e com o capacete no guidão, que é o comportamento padrão dos
moradores da região diante de uma abordagem policial. No corpo de
Renato havia sinais de tortura. Ele foi atingido por um tiro a queima
roupa no rosto e dois tiros na nuca. No Boletim de Ocorrência consta
que a polícia foi acionada por volta das 5:53 da manhã do dia 10.
Mentira, pois nas fotos do corpo do companheiro no local do assassinato
é possível ver que ainda estava escuro. No dia seguinte, com a desculpa
de avisar parentes, a polícia arrombou a casa do Renato sem ordem
judicial e sem a presença de testemunha. Pelo menos 10 policiais civis
e militares reviraram seus pertences e cavaram buracos no quintal,
enquanto sua obrigação era identificar os assassinos dele. A polícia
não chamou a perícia, não procurou cápsulas deflagradas.
O ato cumpriu o
objetivo de desmoralizar a polícia, verdadeiros bandidos. A verdade é
que a polícia de Ouro Preto assassinou o companheiro Renato sob o manto
de proteção do comando do major Ênedy. Desde que este assumiu a PM de
Ariquemes oficializou-se uma campanha orquestrada entre latifundiários,
aparato repressivo do Estado, judiciário, pistoleiros, bandidos e
oportunistas para assassinar os camponeses que resistem em lutas cada
vez mais massivas pela terra.
Após o covarde
assassinato de Renato a polícia afirmou que a LCP é responsável por 80%
dos assassinatos em Buritis, que a LCP estava vinculada com roubo de
madeira e gado, violência e humilhação contra trabalhadores em tomadas
de terra. Sem prova alguma, a polícia disse que Renato não era
professor e sim pistoleiro e traficante de armas. Mentiras desprezíveis
para confundir a população.
O ato resgatou
quem realmente foi Renato: por onde quer que tenha passado deixou uma
infinidade de amigos pelo seu jeito simples de tratar as pessoas, por
sua enorme dedicação ao trabalho, senso de justiça e solidariedade.
Também era contagiante sua firmeza, coragem e sua fé inabalável na luta
combativa e organizada do povo. Renato tinha 28 anos, era casado e pai
de uma filha de 2 anos. Ele não se contentava em ter seu pedaço de
terra e cuidar de sua vida, lutava para que todos camponeses pobres
conquistassem este direito e lutava para deixar um mundo melhor para
sua filha e as futuras gerações.
O ato resgatou
quem é a LCP. O latifúndio e o velho Estado têm tanto ódio do movimento
camponês combativo porque têm medo que a grande massa de camponeses
pobres sem terra ou com pouca terra se organizem, saibam que a luta
pela terra é justa, é sagrada e que este direito só será conquistado
com luta.
Seguir e ampliar a luta pela punição dos assassinos de Renato
A Abrapo –
Associação Brasileira de Advogados do Povo fez uma Carta
responsabilizando o governador Confúcio Moura (PMDB) e a presidente
Dilma (PT) pelo assassinato covarde de Renato e outros camponeses em
luta pela terra. A Carta já conta com quase 200 assinaturas de
movimentos e entidades populares democráticas e de Direitos Humanos,
advogados, médicos, intelectuais, professores e estudantes,
profissionais liberais e outros trabalhadores do Brasil e de vários
países. É importante seguir e ampliar esta campanha. É importante unir
todos movimentos populares democráticos para defender a luta camponesa
combativa, enfrentar e impedir reintegrações de posse de áreas onde
camponeses vivem com dignidade, produzem e dão um destino social à
terra. É importante seguir a luta e o sonho do companheiro Renato.
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
No hay comentarios:
Publicar un comentario