Ocorreu ontem, em diversas capitais brasileiras, o primeiro dia nacional da campanha “Não vai ter Copa!”. Essa palavra-de-ordem, surgida espontaneamente da boca de milhões de manifestantes em junho do ano passado, representa realmente uma afirmação da autoridade das massas, e a declarada disposição de pôr fim aos desmandos e atropelos cometidos diariamente em nome do torneio da FIFA. A essa altura do campeonato, pretender reivindicar uma suposta relação desse torneio com a cultura nacional, ou substituir a combativa negativa aos megaeventos pela esquálida defesa de uma Copa “popular” é, além de completamente utópico, uma verdadeira capitulação diante do velho Estado brasileiro –precisamente no momento histórico em que milhões e milhões se apresentam à luta para enfrenta-lo.
É animador, e significativo, do ponto de vista da luta, que em pleno mês de janeiro as manifestações tenham reunido no conjunto milhares de pessoas em todo o País. Há informes de atos em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Goiânia, Vitória e Sorocaba. O MEPR participou ativamente de grande parte delas.
Manifestante baleado e detenção em massa em São Paulo
A maior manifestação ocorreu em São Paulo. Essa capital tem sido mesmo sacudida, desde o ano passado, por vigorosos enfrentamentos entre manifestantes e as forças policiais, sobretudo nas suas periferias. Ontem, em decorrência do ato, simplesmente 128 pessoas foram detidas, e o jovem Fabrício Chaves foi alvejado com dois tiros por PM’s. Já na primeira manifestação do ano, portanto, poderia ter o governo brasileiro assassinado um manifestante, em nome da Copa. Há diversos relatos de truculência policial, como a denúncia de que a Tropa de Choque invadiu um hotel onde manifestantes se refugiaram das bombas e balas de borracha –que voltaram a ser atiradas no interior do estabelecimento.
Tivemos na cobertura desse ato, aliás, uma demonstração de como os monopólios de imprensa atuarão no sentido de deslegitimar os protestos: as imagens mostram claramente o motorista de um Fusca avançando sobre o fogo, em meio ao protesto, o que acarretou o incêndio do veículo. A notícia veiculada, entretanto, pela auto-intitulada “grande mídia” foi: “manifestantes incendeiam um Fusca”, numa clara manipulação visando envenenar a opinião pública, como foi bem esclarecido pelos manifestantes.
Contra a Copa e o terrorismo de Estado
Essas manifestações devem ser avaliadas dentro de um cenário mais amplo, no qual todo o aparato do Estado, em diversas instâncias, e o monopólio de imprensa trabalham intensamente no sentido de desmobilizar os protestos por duas vias: a primeira, que já demonstra completa incapacidade, pelo ufanismo em torno da Copa e do futebol, e a segunda, baseada na escalada da repressão fascista, anunciada aos quatro ventos. Há cinqüenta anos do golpe militar, nada mais emblemático do que relatório do Ministério da Defesa, qualificando manifestantes como “força oponente”. Trata-se, sem mais nem menos, do que a famosa Doutrina de Segurança Nacional, copiada pelos gorilas “brasileiros” aos manuais norte-americanos, sobre o “inimigo interno”. Some-se a isso a espúria lei antiterrorismo, que em breve será votada pelo Congresso Nacional, e ainda a Lei Geral da Copa, proibindo manifestações durante o torneio.
Essa enxurrada de legislações fascistas, entretanto, são por si mesmas a maior demonstração do caráter profundamente anti-popular dos megaeventos e da subserviência do oportunismo de PT/PCdoB aos ditames da FIFA e do imperialismo de modo geral. Mais ainda: testemunham, de maneira eloqüente, que os politiqueiros e círculos de poder do país estão tremendo de medo do levantamento de nossa juventude, levantamento esse tão necessário quanto inevitável. Como temos dito, que venham as grandes tormentas! Somente através de uma grande desordem sob os céus, poderemos construir uma nova ordem sob os céus, derrotando o fascismo e o imperialismo opressores.
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