Ocorreu ontem, no centro do Rio, manifestação que pela sua contundência e politização pode ser considerada como autêntica resposta das forças populares ao fascismo dos monopólios de imprensa e governos de turno. As cerca de duas mil pessoas que marcharam pela Av. Rio Branco, levando cartazes com imagens de vítimas da brutal repressão policial aos protestos, não se deixaram levar pelas provocações da polícia –que, aliás, caso levantasse suas mãos sujas para agredir os trabalhadores e a juventude combatente, não teria vida fácil. Ao fim, uma grande fogueira com centenas de jornais “O Globo” foi instalada na Cinelândia, representando toda a cobertura podre e insuportável dada pelos monopólios de imprensa aos protestos, sobretudo após a morte do cinegrafista Santiago Andrade. Seguiu-se atividade cultural noite adentro, acompanhada de perto por centenas de policiais, certamente porque jovens e música reunidos deve representar um sério perigo para a ordem vigente...
Há um jargão nas manifestações que simboliza melhor do que qualquer outra coisa o espírito do protesto de ontem: NÃO TEM ARREGO. A luta irá sim prosseguir, senhores. E é com ânimo renovado que o movimento popular e combativo do Rio irá se apresentar para as batalhas em torno da realização da Copa do Mundo que se colocam para breve. No fim de contas, o nível de consciência política e combatividade geral dos ativistas é, ao fim de fevereiro, após a prova da cruzada fascista iniciada no último dia 6, muito maior do que antes. Para desespero de tudo que há de podre neste país.
Ato sem governistas...
Pode parecer incrível, a essa altura do campeonato, quando Sérgio Cabral não passa de um moribundo político, e o governo Dilma está prestes a aprovar a infame lei antiterrorismo, que tenhamos que reafirmar que do ato antifascista não podem participar correntes ligadas aos governos que aplicam exatamente as medidas repressivas contra o povo. Sim, de fato trata-se de algo um tanto paradoxal, mas a vida real contraria a lógica, nesse caso. Isso porque, no último dia 17/02, quando ainda ía no seu auge a campanha raivosa dos monopólios de imprensa, o deputado estadual pelo PSOL Marcelo Freixo participou de um ato em sua defesa –não em defesa do direito de manifestação, ou em defesa das vítimas da polícia em manifestações –do qual tomou parte, nem mais nem menos, Lindbergh Farias, “o cara” do Lula no Rio e candidato a governador do Estado pelo PT. Mesmo PT que compunha o governo Cabral até o início desse ano e, agora, por razões eleitorais, cospe no prato onde tantas boquinhas comeu. O PSTU, que de fato tem condenado muito mais em suas páginas a “violência” dos Black Bloc’s que a da Polícia ou, o que dá no mesmo, as tem colocado no mesmo patamar, também se sentou com o playboyzinho ex-presidente da UNE. Seguiu-se a essa coletiva uma série de entrevistas nojentas de Freixo, fazendo de fato coro com a reação na criminalização dos “vândalos”.
Esse o difícil contexto em que a Frente Independente Popular do Rio de Janeiro fez um chamado a todas as forças organizadas do Rio a comporem um grande ato antifascista, contra as leis de exceção de Cabral e Dilma e o fascismo dos monopólios de imprensa, colocando apenas uma condição: sem governistas. Tratou-se de uma importante demarcação de princípios. Embora a convocação fosse ampla, baseada em pontos comuns a todos os lutadores, o MPL-RJ não só se negou a participar da manifestação, como convocou uma outra para o mesmo dia, dividindo de fato a construção do ato antifascista. O MPL-RJ se retirou da reunião unificada para construção do ato juntamente com um grupo que propôs que a manifestação antifascista deveria ser, na verdade, em defesa da “paz social”. Essa é mais uma explicação que esse Movimento deve àqueles que acreditam sinceramente ser ele uma alternativa à via institucional e eleitoral.
...e sem campanha eleitoral
Apesar da construção do ato, em todos os seus aspectos, desde o trajeto até às palavras-de-ordem, além das comissões de trabalho, ter sido feita em conjunto entre a FIP e Fórum de Lutas (espaço do qual participam PSOL, PSTU, PCB, PCR, etc) quando da manifestação propriamente esses setores, notadamente o PSTU, quiseram de todo modo sabotar a sua marcha, impondo carro de som e querendo a todo custo aparecer à frente do protesto, certamente com vistas a outubro. Falhando de modo ridículo suas manobrinhas, simplesmente tentaram dividir ao meio a manifestação, facilitando a ação policial, no que também fracassaram, dado que o espírito dos ativistas em geral era garantir a marcha de maneira coesa. Isolados do movimento real das ruas, do qual foram sucessivamente rechaçados devido exatamente a suas práticas hegemonistas e antidemocráticas, lhes restou retirar-se da manifestação, de fininho, assim que começaram a arder os jornais “O Globo”, embora também essa atividade tenha sido discutida claramente na reunião conjunta.
Essas críticas contundentes que fazemos, correspondendo objetivamente à realidade dos fatos, não significam que não se deva persistir na realização de ações conjuntas contra o fascismo e a Copa. Pelo contrário, fazemos um chamado aos ativistas que compõe o Fórum de Lutas e as organizações que deles fazem parte que cobrem daqueles que, tomando atitudes unilaterais e oportunistas, sabotam de fato a unidade de ação tantas vezes reclamada. E esperamos que cumpram sua própria deliberação de compor o próximo ato “Não vai ter Copa”, convocado pela FIP-RJ para o próximo dia 12 de março.
Abaixo o terrorismo de Estado!
Globo fascista: você que é terrorista!
Não vai ter Copa!
Rebelar-se é Justo!